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A FECESC – Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de Santa Catarina iniciou na noite de ontem as comemorações pelos seus 60 anos de fundação. O evento que deu inicio à agenda festiva foi a reinauguração do auditório em sua sede, na avenida Mauro Ramos em Florianópolis. Fundada em 20 de setembro de 1952, a entidade completa seu 60 anos, protagonizando muitas conquistas que hoje são realidade na vida dos trabalhadores brasileiros.

 

Palco de muitos debates e encontros, o auditório da Fecesc é considerado um símbolo da resistência contra a ditadura e a favor da classe trabalhadora. Nas palavras de Luiz Azevedo – assessor especial da presidência dos Correios, para aqueles que acompanharam a história política e sindical de esquerda no país, o espaço é visto como “incubadora da CUT e do PT em Santa Catarina, local onde floresceram e continuarão a florescer idéias e projetos tendo no horizonte uma sociedade justa e solidária”.

 

O presidente da FECESC Francisco Alano fez das palavras de Azevedo as suas, afirmando que “ao reformar e reinaugurar este espaço, a Diretoria da Fecesc revela à sociedade catarinense seu compromisso com a história de milhares de militantes, que neste espaço se encontraram por inúmeras vezes, nele se energizaram e redefiniram as trajetórias de suas lutas.”

 

Muitos amigos, companheiros, diretores e dirigentes de seus Sindicatos filiados compareceram ao evento que contou com a palestra do sociólogo e diretor técnico do DIEESE Nacional Clemente Ganz Lúcio. Com o tema Os desafios do movimento sindical para a construção de um novo mundo, Clemente chamou a todos à reflexão sobre o que queremos para o futuro e, principalmente, o que estamos fazendo para alcançá-lo. Ele iniciou afirmando que, há uma década, era impossível imaginar o país economicamente estável e em crescimento. “Há 10, se qualquer país no mundo espirrasse, o Brasil era diagnosticado com pneumonia”, lembrou.

 

Ele continuou usando como exemplo a luta por um salário mínimo que alcançasse 100 dólares. “A resposta que obtínhamos era que um salário mínimo neste patamar geraria inflação, desemprego e informalidade” (o salário mínimo hoje é de 362 dólares). Até que, quando poucos esperavam, um trabalhador chega a Presidência da República “e muda nossas vidas”, contextualizou Clemente. “Nós fizemos escolhas que nos colocaram nesta situação, que nos permitem hoje estar aquém daquela que é considerada a 2ª maior crise mundial da história”, exemplificou.

 

Ao trazer elementos da situação em que o mundo está diante da crise, ele lembra que um em cada dois jovem espanhol entre 16 e 25 anos está desempregado e que, enquanto a Grécia queima 50 prédios em protesto a sua situação financeira, “nós estamos aqui, reinaugurando este espaço democrático e sem medo do desemprego”.  Clemente lembrou que, enquanto o mundo sofre, o Brasil gerou entre 2008 e 2009 2 milhões e meio de novos empregos com carteira assinada.

 

Ele destaca que, apesar dos avanços e da promissora economia, somos um dos países mais desiguais do mundo. “Hoje reunimos, no mesmo território, extremos de riqueza e de pobreza. Daqui a pouco tempo seremos a 5ª economia do mundo, isso nos permitirá nos consolidarmos como liderança mundial. O que temos que responder é: esse crescimento nos manterá com tamanha desigualdade ou conseguiremos criar um país em bases igualitárias? O que estamos fazendo para mudar essa situação?”, questionou.

 

Ao pensar o país 30 anos a frente, o sociólogo lembra que, fazer movimento sindical por si só, não tirará o país do seu curso de desigualdade. Ele afirma que, para mudar, é necessário ira além do movimento sindical e sustentar projetos e processos que teçam uma nação diferente. ”Que estratégia de mudança nós temos? O que estamos fazendo para aproveitar essas condições tão favoráveis que reunimos neste momento? Precisamos ter capacidade política para promover essas mudanças”, afirmou.

 

Clemente lembrou ainda que não há nenhum país no mundo que tenha chegado a patamares aceitáveis de igualdade que não tenham como base a educação. “Se tivéssemos que escolher uma única prioridade nesta luta por uma sociedade mais justa, eu não teria dúvida em afirmar que investiria em educação. Ai eu pergunto a vocês: estamos presente nas mais de 500 escolas técnicas espalhadas pelo país? Que vivência temos nas universidades e nas escolas de nossa cidade? O que a educação tem haver com movimento sindical e com a classe trabalhadora?”.

 

Para encerrar, ele lembra que para fazer as mudanças é preciso garantir processos que funcionem além da atividade sindical. “Precisamos estar presentes em diferentes esferas, como a Câmara Federal, as Câmaras Municipais, os conselhos das instituições de ensino, nas lutas de outras classes e categorias. Precisamos ir além, sob o risco de que, daqui a 30 anos, nossos filhos lamentem a grande oportunidade que perdemos em transformar o Brasil num país justo e igualitário”.

 

Com estas palavras de reflexão e provocação, o auditório da FECESC foi novamente entregue a comunidade e colocado a disposição de novas lutas em defesa da classe trabalho, dando inicio assim as comemorações de seu 60 anos.

 

 

Publicado em 17/02/2012 -

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