Pesquisa realizada pela Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro) e pelo Dieese, divulgada ontem, destaca que o nível de emprego nos bancos brasileiros aumentou, porém permanecem a rotatividade da força de trabalho e o consequente rebaixamento salarial de quem ingressa e a diferença, para menos, dos salários das mulheres.
A pesquisa ressalta, dessa forma, a necessidade de manter a luta pela ratificação da Convenção 158 da OIT. Esta convenção, por restringir o uso da demissão sem justa causa, vai servir como instrumento de luta contra a alta rotatividade do mercado brasileiro. Os patrões, por não terem nenhum tipo de impedimento ou regulação na hora de demitir, recorrem a essa prática como forma de rebaixar a folha salarial e a participação dos trabalhadores na renda do País.
Igualmente necessária é a luta pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, já presente nas campanhas salariais das categorias. Outra convenção da OIT, a 156, se ratificada no Brasil, será importante aliada para garantir a igualdade para os dois sexos no mercado de trabalho.
Reproduzimos a seguir texto publicado pela página da Contraf:
Os bancos que operam no Brasil criaram 2.840 novos postos de trabalho no primeiro trimestre de 2010, quando admitiram 11.053 trabalhadores e desligaram 8.213. Do ponto de vista salarial, no entanto, a remuneração média dos admitidos foi 37,85% inferior em relação à dos desligados (R$ 2.197,79 contra R$ 3.536,38). A disparidade maior é em relação às mulheres. As bancárias foram admitidas recebendo remuneração 32,71% inferior à dos homens (R$ 1.770,20 contra R$ 2.630,59).
Esses são alguns dos principais resultados da quinta edição da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). As duas entidades realizam esse levantamento desde o ano passado, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Clique aqui para conhecer a pesquisa completa.
O resultado relativo ao estoque de emprego entre janeiro e março de 2010 contrasta com os dados de 2009, quando os bancos fecharam 1.354 postos de trabalho naquele primeiro trimestre. E representa um crescimento de 95,2% em relação ao quarto trimestre do ano passado, período em que as instituições financeiras geraram 1.455 novos empregos.
"A geração de novos postos de trabalho no setor financeiro é uma ótima notícia para a categoria bancária, que na campanha nacional do ano passado tinha a defesa do emprego como uma de suas principais bandeiras", avalia Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT. "Em 2009 assinamos acordo com o Banco do Brasil e com a Caixa Federal assegurando a contratação de 15 mil novos trabalhadores. As consultas que estamos fazendo com os bancários indicam que o emprego será novamente uma das principais reivindicações na campanha deste ano."
Na comparação com outros segmentos da economia, no entanto, os dados do Caged mostram que o sistema financeiro foi um dos que menos gerou empregos no primeiro trimestre do ano: apenas 0,43% dos 657.259 novos postos de trabalho criados por toda a economia brasileira no período. O setor que criou mais vagas de trabalho foi o da construção civil, que apresentou um saldo positivo de 127.694 empregos (19,43% do total da economia), seguido do comércio e administração de imóveis, que produziu 95.198 novos postos de trabalho (14,48% do total).
A pesquisa Contraf-CUT/Dieese revela que o saldo positivo do emprego nos bancos está concentrado nas faixas salariais mais baixas, com predominância para o segmento entre 2,01 a 3,0 salários mínimos, que registrou um saldo de 4.223 postos de trabalho.
A partir daí, todas as faixas apresentam saldo negativo de emprego, com destaque para o segmento de 5,01 a 7,0 salários mínimos, onde houve a diminuição de 1.293 postos de trabalho. Esse movimento deve-se ao fato de a grande maioria das admissões (55,8%) estar concentrada na faixa de 2 até 3 salários mínimos, enquanto os desligamentos se distribuírem pelas faixas superiores de remuneração, como mostra o gráfico abaixo. Com isso, a remuneração média de quem é admitido (R$ 2.197,79) é 37,85% inferior à média salarial dos desligados (R$ 3.536,38).
"Esses dados demonstram que os bancos estão usando a alta rotatividade da mão-de-obra para reduzir custos, demitindo bancários com salários mais altos para substituí-los por trabalhadores com remuneração inferior", afirma o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro. "Isso é inadmissível se considerarmos que os bancos continuam aumentando sem parar a sua lucratividade e que apenas os cinco maiores bancos apresentaram lucro líquido de R$ 9,5 bilhões no primeiro trimestre do ano."
Maioria entre admitidos, mulheres ganham menos
Na desagregação por gênero, a pesquisa Contraf-CUT/Dieese mostram que o saldo do emprego bancário no primeiro trimestre de 2010 é favorável às mulheres, com 1.767, enquanto para os homens o saldo foi de 1.073. Percentualmente, os homens representaram 49,7% das admissões e 53,82% dos desligamentos, enquanto a participação feminina correspondeu, respectivamente, a 50,3% das admissões e 46,18% dos desligamentos.
No entanto, a remuneração média das mulheres bancárias é inferior à dos homens, tanto nas admissões como nos desligamentos. As trabalhadoras desligadas saíram do banco com rendimento médio de R$ 2.865,56, valor 30,31% inferior ao auferido pelos homens, R$ 4.112,04. Já a mão-de-obra feminina admitida entra no banco recebendo uma remuneração média de R$ 1.770,20, enquanto os admitidos do sexo masculino recebem o equivalente a R$ 2.630,59; correspondendo a uma diferença de 32,71%. Nas contratações realizadas no primeiro trimestre de 2010 houve, portanto, aumento da distância entre salários médios masculinos e femininos.
"A remuneração inferior das mulheres comprova a discriminação que existe na categoria, o que tem sido objeto de denúncia do movimento sindical e reforça a necessidade de avançarmos na igualdade de oportunidades, uma das principais reivindicações das campanhas dos bancários nos últimos anos", conclui Carlos Cordeiro.