Após o boom de consumo da classe C, o Brasil vive uma forte expansão das compras da classe B – é o que mostra estudo da consultoria IPC Marketing. Segundo o levantamento, feito a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o potencial de consumo das classes B2 e B1 (renda média familiar de R$ 2.950 a R$ 5.350, respectivamente) soma, neste ano, R$ 970 bilhões, 30% mais do que em 2009.
Em relação à população total, o potencial de compras também cresceu, mas em ritmo menor. De 2009 para 2010 passou de R$ 1,8 trilhão para R$ 2,2 trilhões – expansão de 22%. "Está ocorrendo uma segunda migração. Após o crescimento da classe C (renda média familiar de R$ 1.100 a R$ 1.650), agora pessoas desse grupo estão entrando na classe B2 (renda média de R$ 2.950)", afirma Marcos Pazzini, diretor da IPC.
O estudo mostra que, com o aumento da renda, gastos com itens "não básicos" ganham peso no orçamento doméstico neste ano. Entre esses itens estão veículos, alimentação fora de casa, viagens e mesmo saúde (inclui planos e consultas médicas particulares). "Com mais mulheres no mercado de trabalho e expansão dos gastos com lazer, cresce o número de refeições em restaurantes", observa Pazzini.
"Em relação à saúde, o envelhecimento da população também contribui para o consumo maior", completa. Já os itens de consumo que são considerados básicos devem agregar uma parte menor da renda das famílias, aponta a consultoria IPC. O percentual de despesas com transporte urbano, vestuário, refeições em casa e manutenção do lar deve cair neste ano. Ainda segundo a consultoria, os gastos com higiene devem permanecer estáveis.
A IPC destaca também que, justamente por causa da migração dos consumidores da classe C para a B, a participação do Nordeste no potencial de consumo total do país diminuiu de 18,8% (em 2009) para 17,7% neste ano. Mesmo assim, a região continua sendo o segundo maior mercado consumidor do Brasil, atrás apenas do Sudeste.
Por outro lado, houve aumento do potencial nas regiões Sudeste (de 51,4% para 52,7%) e Sul (16,3% para 16,5%). "Como a renda no Sul e no Sudeste é maior, essa mudança de classe dos consumidores ocorre primeiro nessas regiões. Em dois anos, devemos perceber esse movimento no Nordeste", analisa.
Reynaldo Saad, sócio e responsável pela área de varejo da consultoria Deloitte, ressalta que, com o crescimento "consumado" do poder de compra da população, o desafio das empresas, agora, é fidelizar o consumidor. "É preciso que as companhias entendam que o pós-venda [atendimento ao cliente em caso de problemas com o produto ou serviço, por exemplo] é essencial, assim como a inovação", diz. "Só assim as companhias irão se diferenciar em meio à concorrência", completa.
Renda dos mais pobres
Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas mostra ainda que a renda dos brasileiros mais pobres avançou em ritmo quase três vezes superior ao da dos mais ricos em 2009. Segundo estudo do economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, os 40% mais pobres tiveram ganho de 3,15% em 2009, e os 10% mais ricos, de 1,09%.
Os cálculos são baseados na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O economista destaca que a renda dos brasileiros tem crescido mais que o PIB. Enquanto o PIB avançou 3,78% ao ano de 2003 a 2008, a renda se expandiu em 5,26% a cada período, em termos per capita (descontado o crescimento populacional).
No ano passado, quando a crise internacional freou a economia brasileira, o PIB per capita caiu 1,5%, mas a renda subiu 2,04%. O especialista argumenta que a Pnad recém-divulgada pelo IBGE revelou um "fato histórico": a classe C atingiu 50% da população do país. No ano passado, esse estrato econômico representava 49,2% dos brasileiros, e, em 1992, 32,5%.
Neri enquadra na classe C as famílias com renda mensal entre R$ 1.116 e R$ 4.854. Essa nova classe média abarca 94,9 milhões de pessoas, segundo a FGV. "A classe C agora é dominante em poder de compra. É ela que vai comandar o país não só economicamente, mas também em termos políticos", diz o economista.
Neri diz que o Brasil vive um crescimento comparável ao registrado pela China, mas que o avanço econômico brasileiro tem qualidade superior ao do país asiático. "O boom brasileiro recente vem acompanhado de maior equidade, enquanto a China vive uma crescente desigualdade, similar à que vivemos durante o milagre econômico brasileiro", diz.
O economista Claudio Dedecca, da Unicamp, acrescenta que, nos últimos anos, houve melhora da desigualdade porque todos os estratos sociais tiveram ganhos. Segundo ele, até 2006, a desigualdade caía porque havia melhora para a baixa renda e estabilidade ou queda na renda dos estratos sociais mais ricos. "A desigualdade se reduziu devido à convergência dos rendimentos mais elevados em direção ao dos estratos inferiores."
Para o deputado Nilson Mourão, as duas pesquisas demonstram a política de recuperação do poder de compra do salário mínimo e das políticas sociais do governo Lula. "O objetivo central é redução das desigualdades e o combate à pobreza. Os resultados são visíveis e incontestáveis. O mais importante é que ela consegue atingir o Brasil inteiro, particularmente as regiões mais pobres", afirmou.
www.ptnacamara.org.br