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O ex-vice-presidente da República e empresário José Alencar morreu há pouco, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A morte do político, que faria 80 anos em outubro, foi confirmada pela assessoria de imprensa do hospital. Alencar foi internado às pressas ontem (28), no início da tarde, com um quadro de obstrução intestinal. Há mais de uma década, ele lutava contra um câncer no intestino.

Trajetória

Na oficialização da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente, em 2002, petistas na convenção que consagrou a chapa gritavam, durante o discurso de José Alencar: "Lula sim, PL não", em referência ao fisilógico partido para o qual o empresário tinha se transferido recentemente. Oito anos depois, o ex-presidente se tornou membro honorário do PT, ganhou o respeito dos nacionalistas em geral e a admiração até de adversários políticos, em meio a sua longa batalha contra o câncer.

"O partido (PT) não me aceitava, porque eu era empresário", resumiu, em entrevista ao programa de televisão Roda Viva, em 2009. "Houve um momento, numa convenção em São Paulo, quando eu fui apresentado, o Lula foi quem me apresentou, estava lá a cúpula do partido e muita gente do partido, e eu fui vaiado. Eu tinha levado um discurso, que estava no bolso. Eu tirei o discurso e falei assim: eu trouxe um discurso escrito para falar para vocês, mas diante dessa forma que me receberam, eu percebo que vocês não me conhecem, então eu vou contar alguma coisa da minha vida para vocês. Daí a pouco eles estavam aplaudindo."

A aceitação só aumentou depois dos oito anos ao lado de Lula no comando do governo. E também se deve às recorrentes reclamações sobre os juros altos, em especial no primeiro mandato – um dos raros temas que o colocaram no outro lado em relação ao agora ex-presidente. "Nosso discurso de campanha não assumiu o poder", disse Alencar sobre o assunto em 2005. "Precisávamos ter feito aquela política [de redução dos juros]. Mas há ainda tempo para isso, não tempo de praticar qualquer tipo de irresponsabilidade." Em dezembro de 2010, mesmo hospitalizado, ele repetiu parte do discurso ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), um projeto que se insinuou mas não avançou, Alencar também se posicionou defendendo as empresas brasileiras: "Nós precisamos acordar e defender nossos laranjais. Não somos contra a Alca, mas é preciso que seja de fato uma área de livre comércio, não um arremedo de liberdade comercial". Nos bastidores, atuou para que a iniciativa só fosse adiante se todos os interesses dos empresários nacionais fossem contemplados – o que era, na prática, impossível.

No Ministério da Defesa, restaurou o respeito dos militares em 2004, quando a cúpula das Forças Armadas se insurgiu contra o diplomata José Viegas. Recebeu elogios de colegas por seu nacionalismo, incluindo o então secretário da mesma área nos Estados Unidos, Donald Rumsfeld. Os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica se aquietaram até o fim do primeiro mandato de Lula, quando Alencar deixou o cargo.

Alencar defendeu a ampliação do Conselho Monetário Nacional, que dirige a política econômica do país. Quis, sem sucesso, que fossem incorporados representantes de todos os setores produtivos (agricultura, comércio, indústria e infra-estrutura) e de todas as regiões do país ao órgão. Até hoje, o CMN é composto só pelos ministros do Planejamento e da Fazenda e pelo presidente do BC.

Política e economia

Além da contribuição política, Alencar deu ajuda financeira às campanhas eleitorais de que participava. Bancou candidatos do PL em 2002 e assumiu com vigor o papel de interlocutor de Lula com o empresariado chamado produtivo. Assim se fazia distinção, para os petistas, entre os industriais e o mercado financeiro, com quem o petista firmara uma trégua.

Ao longo dos anos, vários petistas concluíram que o PL, hoje chamado de PR, era um mal menor diante da simbologia de ter na chapa de Lula um empresário respeitado como Alencar, dono da Coteminas e oriundo de uma juventude pobre. Um industrial com raízes na política: candidato ao governo de Minas Gerais em 1994 e ao Senado, em 1998, pelo PMDB. Ganhou apenas a vaga no Congresso, mas, em 2002, despontava como forte postulante ao Palácio da Liberdade. Passou no PL o primeiro mandato como vice-presidente e adotou novo partido em 2006, o PRB, ligado à Igreja Universal.

Aliado fiel de Lula, Alencar foi um dos defensores da forte atuação do Estado na economia. Costumava citar os desembolsos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), que cresceram de R$ 37,4 bilhões em 2002 para R$ 90,9 bilhões em 2008.

A Alca, que poderia enfraquecer o empresariado nacional, não aconteceu, e a taxa de juros, que era da ordem de 25% ao ano na posse em 2002 (e chegou a 26,5%, com viés de alta, nos primeiros meses do governo Lula), caiu, apesar de ainda ser a mais alta do mundo em termos reais.

Para completar, o governo Lula e a economia global favoreceram a expansão internacional de grandes empresas nacionais –estatais como a Petrobras, ou privadas, como a Gerdau e a Votorantim. Sem falar da Coteminas, que se fundiu, em 2005, uma empresa norteamericana e transferiu as fábricas dos Estados Unidos para o Brasil.

 

Fonte: Uol Notícias

 

 

Publicado em 29/03/2011 -

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