Trabalhadores e trabalhadoras de Santa Catarina estiveram em Brasília no maior ato da classe trabalhadora dos últimos tempos, a forte repressão policial feriu um estudante catarinense
Um dia planejado há meses, dia 24 de maio data escolhida pelas centrais para ocupar Brasília. Foram mais de 500 ônibus da CUT e 1000 ao total, que veio de diferentes regiões do país, mais de 30 vindos de Santa Catarina, que seguiram à capital federal protestar contra as reformas da previdência e trabalhista e, depois dos escândalos envolvendo a delação do empresário da JBS, o ato somou mais as pautas da renúncia imediata do Temer e pedido de eleições diretas para presidente.
Ao amanhecer o dia, a capital federal se viu ocupada por ônibus que se concentraram no estádio Mané Garrincha e de lá, após o almoço, os cerca de 200 mil manifestantes seguiram em marcha até a esplanada dos Ministérios. A intenção dos trabalhadores que participavam do ato era de mostrar a indignação dos brasileiros e brasileiras frente às reformas sugeridas por Temer e que tramitam no Congresso Nacional. O coro do “não retire nossos direitos”, foi um coro ouvido de fora a fora vindo dos cinco caminhões de som que seguiam a passeata. Fazia um sol forte, muitos haviam viajado por dias para estar ali, mas a energia em cada passada era contagiante, mal sabiam os trabalhadores o que os esperavam em frente ao Congresso Nacional.
As pessoas que estavam à frente do ato já tinham chego na esplanada e parte da passeata nem tinha saído totalmente do estádio Mané Garrincha. Bastou o povo se aproximar do gramado que fica em frente ao Congresso Nacional, para começar a ouvir barulhos de bombas. O pelotão da Policia Militar, junto com a Guarda Nacional fez um paredão e cercou totalmente o acesso das pessoas ao Congresso Nacional, além de afastar o povo mais de 1 quilômetro longe do prédio, a polícia não deixava as pessoas se concentrarem no gramado que fica em frente.
Muita bomba de efeito moral foi jogada pela polícia, a repressão não foi somente ao pelotão de frente que revidava as agressões policiais, mas todos e todas que tentavam se aproximar do caminhão de som principal que estava a frente do gramado. Parecia um campo minado, pessoas corriam para todos os lados, alguns caiam ou se deitavam pra se proteger e não inalar tanta fumaça. A polícia cessava por alguns minutos, o povo retornava para próximo caminhão e a policia atacava novamente. Essa cena de guerra se repetiu por mais de três horas, tempo que os manifestantes ficaram resistindo e mostrando a força dos trabalhadores.
Aí chega a notícia que o presidente Michel Temer faz um decreto e autoriza o uso das forças armadas para barrar a manifestação. As “armas” de defesa dos trabalhadores e estudantes estava acabando, como o vinagre e o leite magnésio, arma vital utilizada pra conseguir respirar no meio de tanta bomba. Era hora de recuar, Temer chamou o exército para guerrilhar contra trabalhadores e estudantes. Contra gente comum, que tentava exercer o seu direito de manifestação. O povo retorna em marcha ao ponto que tudo iniciou. Helicópteros e a tropa de choque acompanham até o final da caminhada. A cena é de guerra, as pessoas com rostos manchados pelos produtos passados para suportar o efeito do gás de pimenta. Corpos cansados, que não se conformavam com a forma violenta com que foram recebidos.
Nesse momento não dava pra mensurar a grande vitória e o dia histórico que aqueles milhares de trabalhadores tinham protagonizado. Apesar de tudo, o povo voltou cantando, de braço erguido e ecoando uma energia que passava de um a um. Ao chegar no ponto de concentração, foram chegando as notícias dos feridos. A brutalidade da polícia havia feito vítimas graves, como caso do estudante catarinense Vitor Rodrigues Fregulia do Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC de Araranguá, que teve partes da mão direita decepada ao se defender de uma das bombas arremessadas pela polícia.
O dia foi chegando ao fim, a polícia permaneceu por um longo tempo nas ruas, passando em alta velocidade e na contra mão com as viaturas, os helicópteros só pararam de sobrevoar a região quando o último ônibus de manifestantes se retirou de Brasília. Para amedrontar os trabalhadores e trabalhadoras que não concordam com Temer e o querem fora da presidência, a polícia serviu de braço de repressão. Usou de uma força desproporcional contra um povo desarmado, que estava lá para lutar pelos seus direitos.
Dia 24 de maio um dia que entrará para história da classe trabalhadora, todos e todas que lá estiveram mostraram resistência e que não aceitarão retirada de direitos e o que Brasil continue sendo governado por um presidente envolvido em escândalos de corrupção. A repressão violenta feita pela Policia do Distrito Federal, só colocou mais energia nos trabalhadores e trabalhadoras, que depois de toda a injustiça praticada no ato, afirmam que não saíram das ruas até que sejam retirados todos os projetos de reformas.
Fonte: Sílvia Medeiros / CUT-SC