Além da histórica retirada do Brasil do Mapa da Fome da Fome da Organização das Nações Unidas, o mês de setembro trouxe outras boas novas para o país:
1.A renda média mensal das famílias, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD-IBGE/13), subiu 3,4% acima da inflação no ano passado e, no mesmo período, o rendimento médio dos trabalhadores assalariados apresentou aumento real de 3,8% acima da inflação. Apesar da crise mundial, o Brasil continuou elevando a renda, na contramão do que vem ocorrendo no mundo;
2. Entre 2004 e 2013, a renda média da população como um todo cresceu 35% acima da inflação. Mas, a dos 10% mais pobres expandiu cerca de 73%. Se considerar os 50% mais pobres, o avanço foi superior a 60%, com impactos evidentes sobre a demanda e a produção.
Apesar da pobreza da discussão sobre o assunto, o Brasil se encontra na melhor situação em termos de distribuição de renda em toda a sua história. O que não é pouca coisa, considerando que a economia mundial enfrenta a sua mais grave crise desde 1929. No que se refere aos indicadores sociais, o balanço é extremamente positivo. A concentração de renda diminuiu significativamente, o salário mínimo teve aumentos reais expressivos, 36 milhões saíram da miséria e a taxa de desemprego atingiu seus menores níveis históricos. Nos últimos anos, poucos países apresentaram um desenvolvimento social tão amplo quanto no Brasil. Por isso o combate à fome obteve tanto êxito.
Certamente algumas dificuldades históricas do país não têm sido enfrentadas com a energia e a prioridade que seriam imprescindíveis. Os juros continuam entre os maiores do mundo e o câmbio precisa ser desvalorizado, sob pena da indústria brasileira perder cada vez mais espaço. Por outro lado, os encargos da dívida pública continuam drenando boa parte dos esforços da sociedade brasileira. São alguns milhares de super ricos, os chamados “rentistas”, que levam anualmente, sem maiores esforços e sem colocar o pé na fábrica, 5% do sétimo PIB da 7ª economia do planeta. Esta questão, difícil de ser compreendida pela maioria da população, está por detrás de todo o debate atual sobre Banco Central independente, nível da taxa Selic, e temas relacionados.
Certamente não foram os problemas apontados acima que derrubaram as ações da Petrobrás em 10% em um único dia, na última semana de setembro, levando a Bovespa a maior queda em um dia nos últimos três anos. Na realidade, não há razão econômica objetiva que justifique uma queda das ações da empresa. Pelo contrário, os dados são uma verdadeira “covardia”: Somente os campos de Libra, Búzios, Florim, Iara e Nordeste de Tupi (todos do pré-sal), somados, irão fazer saltar a produção entre 18 e 26 bilhões de barris, consolidando o país como um dos maiores produtores de petróleo do mundo. As novas reservas de petróleo do Brasil, são responsáveis por 40% de toda as descobertas mundiais de petróleo nos últimos cinco anos e a empresa tem a maior carteira de investimento do planeta. Se a lógica da bolsa estivesse vinculada ao desempenho financeiro das empresas as ações da Petrobrás deveriam “bombar”. Não devemos ser ingênuos: por trás dos ataques à Petrobrás, além do interesse eleitoral mais imediato estão poderosos e dissimulados interesses das grandes multinacionais do petróleo.
É inegável que a queda recente da bolsa está muito mais relacionada à especulação e a uma tentativa de chantagear a sociedade, no atual processo eleitoral. A queda da bolsa, amplamente divulgada na mídia como se fosse o fim dos tempos, dá a impressão do país estar passando por grave crise econômica, o que favorece a oposição. Segundo o siteInfomoney, que acompanha rotineiramente a evolução das ações, o lucro dos investidores com as ações da Petrobrás na bolsa foi, somente em setembro, de 1.120% (sem considerar os custos da operação). Portanto, a queda das ações da empresa, que vinham subindo consistentemente desde o início do ano, apesar dos ataques sofridos, não tem nenhum fundamento econômico, sendo fruto tão somente da especulação eleitoral e da ganância dos investidores da bolsa.
Objetivamente, o Brasil dispõe atualmente de alguns fatores de resistência à crise mundial que não são triviais, e que são perseguidos por qualquer nação do mundo, com pretensões de desenvolvimento: reservas em moeda estrangeira de US$ 376 bi; um estoque de petróleo e gás, que pode chegar a 100 bilhões de barris, avaliada em cerca de R$ 5 trilhões; crescimento contínuo da renda das famílias nos últimos dez anos e a construção de um dos maiores mercados de massa do planeta. Não é pouco, e dar continuidade aos avanços sócio econômicos deste país é desafio imenso.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina
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Autor: *José Álvaro de Lima Cardoso
Publicado em 5/10/2014 -