Empresários pressionam, chantageiam e montam instituto para eliminar direitos dos trabalhadores e liberar a corrupção empresarial
Em novembro de 2018, matéria da revista Veja constatou: “Aprovada a toque de caixa pelo Congresso, a reforma trabalhista completa um ano neste domingo, 11. Neste período, o total de desempregados teve redução mínima – são 12 milhões de desocupados, o que coloca em xeque o argumento de que era necessário modernizar a CLT para manter e gerar empregos no país. O que se viu foi a ampliação do trabalho autônomo, intermitente, temporário e terceirizado.” Esse discurso falso, o da criação de empregos, é o mesmo resgatado agora pelos empresários brasileiros que defendem a reforma da Previdência. Mais que discurso, virou chantagem: um grupo de empresários liderados por Luciano Hang, da Havan, e Flávio Rocha, da Riachuelo, ameaçam com mais desemprego, caso a reforma proposta por Bolsonaro, que retira da classe trabalhadora o acesso à aposentadoria, não seja aprovada.
Esse grupo foi ainda mais além, anunciando a instalação de escritório em Brasília e a contratação de 12 lobistas para atuar pela aprovação da reforma, conforme matéria da Revista Fórum publicada em abril.
As posturas extremas do empresário Hang são bem conhecidos pelos comerciários de Santa Catarina, estado onde ele começou seu império. “Há muito convivemos com as práticas desse empresário que, se por um lado até faz acordo razoáveis com os sindicatos, por outro lado nos rouba direitos, saúde, educação, quando apoia a reforma trabalhista e previdenciária e sonega impostos de forma vergonhosa”, afirmou o presidente da Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de Santa Catarina – FECESC, Francisco Alano.
Durante a campanha eleitoral no ano passado, o Ministério Público do Trabalho (MPT-SC) solicitou liminar para impedir o empresário de coagir seus empregados a votar no candidato à presidência da República Jair Bolsonaro. Além de submeter seus trabalhadores a situação vexatória, o empresário divulgava a ação em suas redes sociais. O juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do Trabalho, em Florianópolis, concedeu uma liminar proibindo Hang e a Havan de influenciar o voto e determinando multa de R$ 500 mil em caso de reincidência. Atualmente, Luciano Hang responde processo impetrado pela 12ª Procuradoria Regional do Trabalho em Santa Catarina, que entrou com ação civil pública contra a empresa e contra o empresário, pedindo o pagamento de até R$ 100 milhões de indenização por danos morais, por influenciar o voto dos funcionários durante o período eleitoral.
Lobby para legitimar corrupção empresarial
Agora, Hang e seu grupo de amigos reunidos no “Instituto Brasil 200” seguem sua cruzada de extrema-direita não apenas atacando toda regra trabalhista, mas, também, procurando se livrar de qualquer fiscalização da Receita Federal. Em almoço com o ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni divulgado pela imprensa, Hang apresentou reivindicações do setor empresarial e pediu a desburocratização, chamando o e-Social de “putaria do cacete” (palavras do empresário divulgadas em vídeo na ocasião). O e-Social é um projeto do governo federal para unificar o envio de informações trabalhistas e previdenciárias que tem como principal objetivo reduzir a sonegação de impostos.
Para o presidente da FECESC, “Caíram todas as máscaras e se tornou muito clara a intenção de reduzir os direitos trabalhistas às condições do escravagismo que imperou por séculos nesse país: este tipo de empresário do grupo de Hang quer a classe trabalhadora trabalhando 10, 12 horas por dia, sete dias na semana, sem direitos, sem serviços públicos e sem nenhuma proteção do Estado, enquanto eles, os senhores de escravos, têm subsídios para a casa grande e direito a sonegar sem nenhum tipo de fiscalização”. Francisco Alano entende que é necessária uma reação forte e direcionada contra esse tipo de empresários e denunciou a postura junto aos demais sindicatos e centrais sindicais. Além de Hang (Havan) e Rocha (Riachuelo), fazem parte do grupo João Apolinário (Polishop), Sebastião Bonfim (Centauro), Washington Cinel (Gocil), Edgar Corona (Smart Fit) — todos apoiaram Bolsonaro na campanha eleitoral.