Restrito até agora quase exclusivamente a publicações especializadas ou veículos da comunidade científica, o Sistema Aquífero Grande Amazônia é uma descoberta recente que confirma o Brasil como o paraíso da água doce no planeta Terra.
São 162,5 mil km3 de água doce subterrâneos, espalhados entre a Ilha de Marajó e o Acre. É três vezes e meia maior que o aquífero Guarani, que com seus 45 mil km3 era considerado o maior do mundo.
Até que em julho do ano passado, após o encerramento da 66ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), pesquisadores das universidades federais do Pará e do Ceará anunciaram a descoberta.
“É o pré-sal da água”, comentou o professor e pesquisador Luiz Roberto Santos Moraes, durante debates do seminário “Desafios e Perspectivas para a Gestão das Águas”, realizado nestas quinta e sexta-feiras em Maceió (AL), por iniciativa da CUT Nacional, com apoio do Solidarity Center da federação trabalhista estadunidense AFL-CIO.
O desafio, diante de descoberta de tal monta, é tirar do papel e aplicar de fato a Política Nacional de Recursos Hídricos (conheça a lei 9433/97), como primeira medida para a preservação e bom uso dessa riqueza, adverte Moraes. E estar preparados para impedir o avanço de grupos estrangeiros sobre esse manancial.
Esponja
O aquífero, que já ganhou a sigla SAGA, é do tipo que preenche as porosidades das rochas, a exemplo de uma esponja. Para compreender a dimensão desse manancial, vale o exemplo citado por outro estudioso que participou do seminário, Egon Krakheche, assessor da Agência Nacional das Águas (ANA). “Se pensarmos o aquífero Guarani, bem menor que o SAGA, como uma esponja, poderíamos espremê-la e isso resultaria numa piscina do tamanho do Brasil, com cinco metros de profundidade”.
Antes mesmo da descoberta, o Brasil já figurava, como é de conhecimento público, como uma reserva líquida preciosa. Das águas doces superficiais do planeta, 12% estão no Brasil.
Um dos problemas é a distribuição geográfica dessas águas. No Brasil, dividido em 12 regiões hidrográficas, onde há muita densidade populacional, como Sudeste e Sul, há pouca água e, em muitos casos, de pouca qualidade, em especial pelo mau uso histórico. E o líquido abunda onde há pouca gente.
Como o SAGA poderá ser utilizado para suprir as necessidades da população ainda é incerto, dado o estágio inicial das pesquisas. O SAGA está onde antigamente se imaginava haver apenas o Aquífero Alter do Chão, muito menor.
Proteção das matas
Já se sabe que a recente descoberta tem papel fundamental na produção de chuvas para outras regiões do País, através do fenômeno conhecido como evapotranspiração.
Portanto, a proteção da mata que cobre a região, essencial para que o aquífero permaneça vivo e seja reabastecido pelas chuvas – o que não ocorreria caso a terra desprotegida começasse a ser solapada ou, em outra hipótese, a impermeabilização do solo, a exemplo dos centros urbanos, impedisse a troca com as precipitações pluviais – já é considerada medida imprescindível.
Outra tarefa, como adverte o professor Moraes, é defender o SAGA das mais diferentes formas de privatização que existem, como as parcerias público-privadas, as concessões ou a locação de ativos, entre outras. “Dependendo de como for a gestão das águas, os grandes grupos empresariais, estrangeiros ou nacionais, podem fazer pressão direta sobre os governos federal e estaduais. Os movimentos sociais devem se apropriar dos instrumentos legais para enfrentar essa luta”, comenta.
O seminário que ocorre em Maceió reúne secretários estaduais de Meio Ambiente da CUT. Na manhã desta sexta, os dirigentes debatem entre si as realizações do mandato atual e preparam propostas para o exercício seguinte, a ser apresentadas nos congressos estaduais e no Congresso Nacional da CUT, que ocorre em outubro. O Secretário de Meio Ambiente da CUT SC – Jacir Antonio Zimmer, esta representando a central neste importante debate.
Fonte: por Isaías Dalle/CUT Nacional
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