22/10/2014
O suicídio histórico está à mão de todos, inclusive dos partidos. Quantas organizações já floresceram em nosso solo e nele encontraram seu féretro? Na Europa de hoje vive-se a agonia dos antigos partidos socialdemocratas (como o Partido Trabalhista inglês) e socialistas, como o lamentável Partido Socialista francês ou o Partido Socialista Operário espanhol. Antes, se haviam desnaturado os partidos comunistas ortodoxos, de especial o esperançoso Partido Comunista Italiano de Gramsci e Togliatti. Uns e outros, e nós aqui, a esquerda de um modo geral, não conseguimos nos desfazer, racionalmente, dos escombros do Muro de Berlim. Mirando sem olhos para ver, sem engenho e arte (ou coragem), renunciamos à missão de construir, ou pelo menos projetar, o socialismo do século XXI. O passado nos prende e o futuro assusta. O fato de a ascensão do pensamento conservador ser hoje dominante nas democracias ocidentais, a começar pelas europeias, torna ainda mais perniciosa a ameaça de retrocesso do quadro político brasileiro, seja em face de seu significado intrínseco – as implicações sobre o futuro de nosso País e de nossa gente – seja em face de suas consequências geopolíticas. A vitória da direita traria graves prejuízos para a estabilidade política da América do Sul e deitaria por terra a vitoriosa política brasileira de aproximação com a África, lá deixando o caminho aberto para os interesses da China e outros concorrentes. Significaria ainda o retorno ao papel subordinado que nos anos FHC desempenhou a política externa brasileira, a desarticulação do Mercosul, a retomada da Alca em outros termos, o enfraquecimento do BRICS – por fim, a renúncia a uma política soberana. O Brasil, como anuncia o principal porta-voz do tucanato, o cônsul honorário de Wall Street com escritório na Fiesp e espaço nos jornalões, voltaria a falar grosso com a Bolívia e fininho, pianinho, com as grandes potências, às quais nossos interesses – políticos, econômicos e estratégicos – estariam, de novo, condicionados. É imperativo evitar tudo isso. O retorno do neoliberalismo significaria a renúncia ao nacional desenvolvimentismo, com a recuperação da ortodoxia monetarista, o arrocho fiscal que só pune o pobre, beneficia o sistema financeiro e o capital improdutivo, o rentismo e a especulação, a roleta artificial das bolsas. A velha e cediça lição do FMI da qual nos livrou o atual governo: corte de gastos sociais, contenção dos juros e redução do crédito, tarifaço, arrocho salarial, ‘flexibilização’ das leis trabalhistas. Já vimos isso aqui e estamos vendo o que estão fazendo na Europa. Sabemos, pois, no que dá. O candidato da direita já anunciou quem seria seu ministro da Fazenda. Dúvidas, portanto, não há. E não é sem motivos que a Economist, conspícua representante do conservadorismo inglês, lhe anuncia apoio. É preciso cuidar, pois a emergência do pensamento conservador é a ata das...