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Em decorrência da renitência da crise na Europa (que vai pelo sexto ano seguido), e do risco sempre presente da mesma se agravar, vale a pena examinar as condições de o Brasil enfrentar uma piora no cenário econômico mundial. A relação dívida pública/PIB, por exemplo, que é indicador fundamental de saúde financeira de um país, encontra-se estabilizada na faixa dos 35% (era de quase 60% há pouco mais de uma década). Além disso, as reservas internacionais estão em torno dos US$ 380 bilhões, o maior volume da história do país. Ter uma inflação sob controle, que fica dentro da meta (ainda que no limite superior) pelo 11º ano seguido, também é fundamental. O Brasil dispõe também de estoques de petróleo e gás que estão avaliados em cerca de R$ 5 trilhões, assim como abundância de água e alternativas energéticas variadas como nenhum outro país do mundo.

No entanto, a arma mais potente para o enfrentamento da crise é o crescimento contínuo da renda das famílias nos últimos dez anos e a constituição de um dos maiores mercados de massa do planeta. A massa salarial continua crescendo (apesar do baixo crescimento do PIB) e o país atingiu a menor taxa de desemprego verificada na história do país (segundo o IBGE, 4,7% em outubro, o menor percentual para o mês na série histórica).Temos também o BNDES, que tem sido colocado a serviço do desenvolvimento e da manutenção do crédito desde a eclosão da crise econômica internacional em 2008. Os desembolsos do Banco (que chegaram a R$ 190,4 bilhões em 2013) são fundamentais na sustentação da demanda agregada e na diminuição dos impactos da crise sobre o Brasil.

Importante também é o processo de maturação dos investimentos feitos nos últimos anos, que deve significar a abertura de um novo ciclo de crescimento no país. Em 2015 serão inauguradas algumas grandes obras como: transposição do Rio São Francisco, Hidrelétricas de Belo Monte (a terceira maior do mundo, no Pará), de Jirau (Rondônia) e de Santo Antônio (Rondônia); expansão e construção de pelo menos 6 metrôs que estão em obras; inauguração de pontes, como a de Laguna (SC) e a segunda Ponte do Guaíba (RS); ampliação e modernização dos maiores aeroportos do país; novas plataformas de petróleo. Teremos ainda a inauguração da Refinaria Abreu e Lima, que será a mais moderna do país (primeira refinaria de petróleo inteiramente construída com tecnologia nacional). Além disso, a Petrobrás que nos últimos anos fez muitos investimentos para se preparar para o pré-sal, volta a se capitalizar a partir de 2016 e as extrações de Petróleo quadruplicam nos próximos três anos. Entre 2015 e 2017, serão investidos nada menos que R$ 300 bilhões nos projetos de infraestrutura. As Olímpiadas de 2016, por sua vez, um megaevento que tende a ser 6 vezes maior do que a Copa do Mundo devem trazer um fôlego a mais para a economia.

Nada disso elimina os desafios que o país terá que enfrentar, que são imensos. O Brasil precisa, por exemplo, retomar o crescimento com urgência. A inédita geração de empregos no país e a redução da pobreza são conquistas que já foram metabolizadas pela sociedade brasileira. As gerações que ingressam agora no mercado de trabalho já vêm a baixa taxa de desemprego como constituindo parte da “paisagem econômica” do Brasil (desde o advento do Descobrimento) e não como uma conquista dura e recente, como os da minha geração enxergam.

*Economista e supervisor técnico do DIEESE.

 

Autor: *José Álvaro de Lima Cardoso

Publicado em 2/12/2014 -

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