A espinha dorsal do programa golpista é implacável com os trabalhadores. Especialmente com os segmentos mais pobres e vulneráveis.
Vejamos:
- a) Tentativa de destruição do mercado de consumo de massas (Emenda Constitucional 95, já em vigor e do conjunto das medidas recessivas);
- b) destruição dos direitos sociais e trabalhistas (Terceirização sem limites, reforma trabalhista, ambas já em vigor);
- c) destruição da Seguridade Social (PEC 287);
- d) desmonte da Petrobrás e entrega do pré-sal (em célere andamento);
- e) destruição do sistema de defesa do país (em rápido andamento através de uma série de ações);
- f) liquidação de qualquer vestígio de Estado de bem-estar social (são dezenas de ações neste sentido);
- g) Inserção do Brasil nos mercados internacionais de forma completamente subordinada, como supridor de matérias-primas agrícolas e minerais;
- h) Redução dos salários e do custo geral da força de trabalho.
Com o encaminhamento desses eixos, distribuídos em dezenas de ações específicas, que se potencializam mutuamente, é como se o Brasil tivesse sido invadido por uma potência inimiga.
A operação Lava Jato dizimou parte da construção civil brasileira, fechando empresas e prendendo seus executivos, em nome do combate à corrupção. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo avalia que a Lava Jato e a Carne Fraca, somadas, possam ter gerado de cinco a sete milhões de desempregados. Isso sem considerar os efeitos da depressão econômica, em boa parte provocada pelo golpe, e da entrega do pré-sal, que está sendo rapidamente encaminhada. Quando a Lava Jato iniciou suas atividades, em março de 2014, se estimava, com base nos dados do IBGE, que o Brasil tinha 7 milhões de desempregados. A estimativa atual é que esse número já esteja em mais de 14 milhões. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), calcula que, o Operação Lava Jato, destruiu cerca de 3 milhões de empregos, somente na cadeia de gás e petróleo (que, em 2014, representava 13% do PIB).
As medidas anunciadas até o momento, que prejudicam 99% da população, tudo indica, não são os limites dos golpistas. A crise econômica (e essa em boa parte foi construída), historicamente, sempre teve grande funcionalidade na destruição de conquistas e direitos históricos. Nessa conjuntura as agendas de amplos setores dos movimentos sociais (mulheres, negros, juventude, LGBT, etc.) ficaram completamente desaparecidas, em benefício de uma agenda ultraliberal, que pressupõe a diminuição drástica do papel do Estado na economia.
Para a esmagadora maioria dos trabalhadores brasileiros, a luta contra o golpe não significa uma defesa abstrata ou teórica da democracia. Se trata de uma questão de sobrevivência. Ou a população acaba com o golpe ou o golpe acaba com a aposentadoria, com as estatais, com a saúde pública, com as riquezas naturais. Lutar contra o golpe não é uma posição teórica ou meramente ideológica, e sim questão de vida ou morte (inclusive física por que há uma evidente restrição da democracia). A restrição da democracia não ocorre por acaso. Como calar 150, ou 160 milhões de brasileiros que se recusam a ir passivamente para o matadouro como gado, em face da destruição do país? Entre 90% ou 95% da população, quem pode prescindir da seguridade social, dos serviços públicos, das leis trabalhistas, dos recursos do pré-sal?
Com todos os poderes da República envolvidos até o pescoço no golpe, que está sendo comandado pelo Imperialismo, são as organizações sindicais e sociais que ainda podem defender os trabalhadores contra o golpismo e todas as suas consequências. Na prática é isso que vem ocorrendo, apesar da insuficiência. O cenário atual é de aparente calmaria e a luta sindical está num momento de perplexidade e com intensidade muito abaixo daquela necessária para virar o jogo. Mas já há uma percepção de que se não houver reação à altura o movimento sindical será liquidado. Um governo prudente, especialmente originado de um golpe de Estado, e com no máximo 5% de aprovação, não comemoraria a fraqueza momentânea dos protestos. Fenômenos sociais, especialmente em situações extremas e polarizadas, não costumam se desenvolver de forma linear e previsível.
Por José Álvaro de Lima Cardoso – Economista e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina