Além da expansão do consumo das famílias (impulsionado pelo emprego, pela maior oferta de crédito e o aumento do salário mínimo), um outro vetor do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano tem sido o investimento. Antes da chegada da crise a taxa de investimentos vinha crescendo acima do consumo das famílias, mas este processo foi brecado a partir do último trimestre de 2008 com a chegada da recessão. No terceiro trimestre de 2009, no entanto, já havia crescido 6,5% sobre o trimestre anterior.
As sinalizações de recuperação do investimento no Brasil são fortes e generalizadas. Nos últimos meses alguns dos maiores grupos empresariais do país apresentaram grandes projetos de expansão: a Vale anunciou investimentos até 2012 de mais de US$ 45 bilhões no Brasil; o Grupo Votorantim anunciou projetos que atingem quase 26 bilhões de reais, fora as aquisições de empresas; a Camargo Corrêa prevê um aporte de 10 bilhões de reais para os próximos anos.
No setor varejista as grandes empresas anunciaram recentemente mais de R$ 15 bilhões em investimentos nos próximos três anos. Mas a retomada dos investimentos não se limita às grandes redes, pelo menos no comércio varejista. Em Santa Catarina as redes de alcance estadual ou regional têm anunciado para este e para os próximos anos a abertura de novas lojas e centros de distribuição que significam milhões em investimentos. A confluência de fatores para a melhoria dos resultados do comércio é muito robusta: aumento do salário mínimo, juros em patamares historicamente muito baixos, redução de imposto para móveis e produtos de linha branca e a copa do mundo, que estimula a venda de televisores.
A retomada dos investimentos empresariais aparece nos dados disponibilizados pelo Banco Central. Segundo o Banco, no último trimestre de 2009 o saldo da carteira de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) expandiu 9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Uma parte destes investimentos deveria ter sido iniciada antes, mas os projetos foram engavetados com o advento da recessão do último trimestre de 2008. No entanto, como o Brasil conseguiu emergir rapidamente da crise, os investimentos que já estavam planejados estão sendo rapidamente viabilizados. A estimativa do Ministério da Fazenda é a de que a taxa de investimentos cresça 15% em 2010, atingindo 18% do PIB, um percentual ainda extremamente baixo e que irá crescer muito.
Além da retomada do investimento privado, os aportes públicos irão se acelerar neste e nos próximos anos, em função das grandes obras já previstas, com destaque para: a viabilização do Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo (TAV RJ-SP) (R$ 40 bilhões); Pré sal (somente a Petrobrás tem investimentos previstos de R$ 350 bilhões até 2013); Copa do Mundo em 2014 (estimativa de R$ 20 bilhões); Jogos Olímpicos (R$ 16 bilhões de investimentos públicos + o setor privado cujos investimentos podem alcançar R$ 30 bilhões); Minha Casa, Minha Vida (R$ 60 bilhões); PAC (R$ 646 bilhões entre 2007 e 2010). O montante de recursos envolvidos com o projeto de investimentos do Governo Brasileiro só é superado no mundo, pela China.
A Lei Complementar 459, que instituiu os pisos estaduais de salários, que começaram a ser pagos em Santa Catarina no início deste mês, veio na ocasião mais adequada possível. O pequeno aumento de custos advindo dos novos pisos será largamente compensado pelo crescimento do mercado consumidor interno, através da expansão do emprego e da massa salarial. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) em novembro já revelaram uma virada na tendência do emprego em Santa Catarina, com geração de 17.847 postos, o melhor resultado para o mês, de toda a série histórica. Apesar de ser um ano de dificuldades, o saldo do emprego formal em 2009 ultrapassou os 51 mil postos, que são suficientes para absorver a demanda por novos empregos no Estado.
Autor: José Álvaro de Lima Cardoso – Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.