A Polícia Federal prendeu na quarta-feira (25) quatro diretores de uma das maiores empreiteiras do país: a Camargo Corrêa. Eles teriam enviado dinheiro de forma ilegal para o exterior. O repórter César Tralli teve acesso a novos detalhes da Operação Castelo de Areia.
Em entrevista ao repórter César Tralli, a procuradora da República Karen Kahn, que investiga o caso, disse que devem surgir novos nomes. O esquema, segundo as investigações, tem a participação de muita gente. Envolve executivos da empreiteira, doleiros, partidos políticos e dirigentes empresariais. O Ministério Público Federal investiga crimes de evasão de divisa, corrupção e lavagem de dinheiro que estava destinado a grandes obras públicas.
Policiais federais deixam a sede da Camargo Corrêa depois de um dia inteiro de buscas. Eles reviraram os escritórios de uma das maiores empreiteiras do Brasil à procura de provas para reforçar uma investigação que começou há um ano e dois meses. “Existe a expectativa de que nomes venham a ser identificados e de que se possa apurar mais crimes, além daqueles que já foram levantados”, afirmou a procuradora da República Karen Kahn.
A acusação é de que os quatro diretores da Camargo Corrêa, presos na Operação Castelo de Areia, estariam mandando ilegalmente dinheiro para fora do Brasil. Os executivos presos são: Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato, Pietro Bianchi e Raggi Badra Neto. “Os indícios são de que esse dinheiro era enviado para o exterior através de doleiros”, revelou o delegado José Alberto Iegas, da Polícia Federal.
Dois homens e uma mulher, apontados como doleiros do suposto esquema, foram presos no Rio de Janeiro: José Diney Matos, Jadair Fernandes de Almeida e Maristela Brunet. Ao todo, R$ 1,5 milhão foi apreendido.
Os doleiros do Rio seriam comandados pelo consultor financeiro Kurt Paul Pickel, de São Paulo, onde a Justiça mandou prender também secretárias que trabalham para dois dos executivos investigados.
Em pouco mais de um ano, as supostas remessas ilegais de dinheiro da Camargo Corrêa para o exterior somariam mais de US$ 20 milhões, segundo o Ministério Publico Federal. A investigação aponta indícios de que a origem dos dólares mandados para fora também seria ilegal, o que envolveria corrupção, partidos políticos, obras públicas e lavagem de dinheiro.
O relatório da policia menciona uma obra pública que está sendo feita pela Camargo Corrêa, em Pernambuco, com dinheiro da Petrobras. É a Refinaria Abreu e Lima, conhecida como Refinaria do Nordeste.
O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que houve superfaturamento entre março e abril do ano passado, quando os telefones de diretores da construtora já estavam grampeados, por ordem judicial. “Chamam atenção as ligações interceptadas exatamente no mesmo período”, escreveu o delegado Otavio Rosso no relatório final.
O juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal, ressalta: em uma das conversas entre diretores da construtora, o assunto teria sido a suposta divisão de dois montantes de dinheiro: R$ 300 mil e R$ 200 mil para duas pessoas.
No mesmo parágrafo o juiz diz: “Constaria distribuição de dinheiro a partidos, como PPS, PSB, PDT, DEM e PP”. Também são citados o PSDB e o PS. Este último sem registro partidário atualmente.
Em um dos diálogos interceptados, o assunto seria a destinação de R$ 300 mil ao PMDB do Pará. “Pelo que se pode captar das interceptações, todos esses pagamentos a partidos políticos eram feitos em dinheiro. Não são citadas contas bancárias, mas sim levantamentos de valores altíssimos que eram levados em espécie a representantes para serem destinados aos partidos políticos”, declarou a procuradora da República Karen Kahn.
O juiz afirma: os supostos intermediários da Camargo Corrêa seriam pessoas eventualmente vinculadas à Federação das Industrias do Estado de São Paulo, que estariam encarregadas de distribuir o dinheiro para funcionários públicos que ocupam cargos relevantes em Brasília.
O juiz também entendeu que os alvos estariam se protegendo de uma eventual ação penal. E falavam ao telefone em códigos, como gato, coelho, onça e canguru, para ocultar os verdadeiros nomes dos envolvidos nas operações supostamente ilícitas. “Havia a preocupação nítida em não serem descobertos, inclusive com a destruição de material que já contivesse informações sigilosas, com a utilização de expressões sempre codificadas”, explicou a procuradora Karen Kahn. “A empresa está certa de que a sua isenção será demonstrada no final do processo e reitera a sua confiança na justiça brasileira”, disse Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado da Camargo Corrêa.
O presidente do PMDB do Pará, o deputado federal Jader Barbalho, disse que o partido pode ter recebido doações da Camargo Corrêa, inclusive em dinheiro, como contribuição para campanhas eleitorais no estado. Jader ressaltou que estas seriam doações legais.
PP, PSDB, PSB, PDT e Democratas também afirmaram que desconhecem doações irregulares. O PPS negou ter recebido doação da construtora Camargo Corrêa. A Petrobras declarou que considera não ter havido superfaturamento na obra da refinaria, mas suspendeu o pagamento acatando a determinação do Tribunal de Contas da União. A Fiesp declarou que não se envolve em relações entre as empresas que representa e os partidos políticos e seus candidatos.
G1