O governo Temer anunciou um “pacote de Natal” de estímulo à economia no dia 16 de dezembro. O evento de lançamento do pacote, anunciado como o marco zero da recuperação da economia brasileira, contou com todas as formalidades e bajulações midiáticas que envolvem um golpe de Estado apoiado pelos barões da comunicação nacional. Uma semana antes do Natal, Temer lança um arremedo de programa. Um apanhado de medidas desconexas, todas com minúsculo impacto econômico. O único objetivo do pacote ficou claro: lançar uma cortina de fumaça para esconder o desastre completo do governo Temer e do golpe neste ano de 2016.
A economia brasileira entrou em trajetória de queda livre. A única resposta do governo golpista, do congresso corrupto e dos empresários incompetentes é a retirada de direitos dos trabalhadores e a destruição das condições de vida do povo brasileiro. A renda dos trabalhadores despencou mais de 6% em 2016, dados da OIT. As pequenas e médias empresas, dependentes do consumo dos trabalhadores, não param de acumular problemas. Os estados, que tem sua arrecadação baseada no ICMS sobre o consumo dos trabalhadores, foram jogados na lona. Ao mesmo tempo, as grandes fortunas e o mercado de luxo dos bilionários continuam crescendo, mesmo na crise. Ao contrário da retórica falseadora da mídia e do golpe, a retirada de direitos dos trabalhadores não melhorou as condições da economia, pelo contrário, destruiu o que restava de mercado interno consumidor e aumentou de maneira brutal a concentração de riqueza da sociedade brasileira.
Este foi o programa econômico de Temer em 2016. Inflação em queda (de 11% para 7%) e juros mantidos nas alturas (taxa básica estagnada nos 14%, os maiores juros do mundo). Em termos reais (juros menos inflação), os rentistas – em torno de 10 mil famílias bilionárias – viram seus rendimentos financeiros duplicar em 2016. Quanto maior os juros reais, maior a fatia do filé mignon que a classe dominante rouba do povo brasileiro. 2016 repetiu 2015, o Brasil gastou R$ 500 bilhões em pagamento de juros. Quase 50% do orçamento público federal destinado ao pagamento do sistema da dívida pública. Nesta estrutura, que comprime as condições de vida da classe trabalhadora e destrói qualquer possibilidade das pequenas e médias empresas sobreviverem, o governo lança um pacote com o único objetivo de criar uma cortina de fumaça para o desastre da economia em 2016, provocado por eles mesmos.
Além disso, os golpistas no meio de inúmeras medidas inúteis do ponto de vista econômico, também atenderam seus chefes, os empresários. A única pauta que segue intocada é a da retirada de direitos dos trabalhadores para agradar capitalistas sedentos por lucros fáceis. A retirada da multa de 10% na demissão sem justa causa é mais um capítulos no maior ataque contra a classe trabalhadora da história do Brasil. A medida não traz nenhuma ajuda as empresas, apenas auxilia os grandes empresários a utilizarem da rotatividade do mercado de trabalho para demitir trabalhadores antigos e recontratar novos, ganhando salários bem inferiores. Mais um desserviço dos golpistas para o país.
Não podemos esquecer, também, a conjuntura em que se inserem as medidas. A alta cúpula do PMDB, incluindo o presidente Temer, está envolvida até o pescoço nas delações premiadas dos executivos da Odebrecht. A farsa de que o impeachment acabaria com a corrupção no Brasil fica cada vez mais estapafúrdia. Pelo contrário, o partido mais orgânico com a corrupção empresarial neste país é justamente o PMDB. O golpe teve claro objetivo de destruir as condições de vida dos trabalhadores e proteger os ratos que ficaram amedrontados com os escândalos que passaram a ocupar a grande mídia. O desastre está feito, o governo apenas se defende com medidas midiáticas que estão longe de resolver a crise social que o país começa a experimentar. 2017 será um ano de mais jogo de cena e hipocrisia por parte das elites. Apenas os trabalhadores, caso se organizem e lutem contra isso, podem dar uma resposta à altura do grande ataque que estamos sofrendo. Só a luta muda a vida, nunca o ditado foi tão verdadeiro.
*Presidente da FECESC