Por Rosane Bertotti, Secretária de Comunicação Nacional da CUT.
Em sua última edição, a revista Veja, da editora Abril, mais uma vez deu uma aula de antijornalismo ao julgar e sentenciar [do alto de sua arrogância] jovens que expôs na capa. O objetivo era referendar a defesa da redução da maioridade penal que encampa. Não bastasse isso, a publicação também permitiu a identificação desses adolescentes em sua reportagem, o que fere o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O último ponto é justamente o argumento que o coletivo Intervozes utilizar para ingressar com uma ação na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, em São Paulo, contra a revista.
“Eles estupraram, torturaram, desfiguraram e mataram. Vão ficar impunes?”, pergunta a matéria de capa, que ajuda a explicar a perda de credibilidade da editora Abril, em processo de perda de assinantes e anunciantes e tendo que fechar algumas de suas publicações por uma profunda crise financeira.
Para o Intervozes, “ao condenar os jovens antecipadamente, o conteúdo veiculado pela Veja está em desacordo com dispositivos legais adotados no Brasil, além dos padrões internacionais que buscam assegurar a efetivação de tais direitos. Nesta perspectiva, o Coletivo aciona a justiça na esperança de que a Editora Abril seja responsabilizada e que a ação seja exemplar no sentido de salvaguardar o respeito aos direitos humanos nos meios de comunicação”.
Não é a primeira vez que Veja mente ou manipula a informação, desinformando os brasileiros e servindo ao debate rasteiro, imediatista e que tem o ódio como combustível.
Recentemente, confirmando sua vocação panfletária, a publicação soltou uma edição extra, às vésperas da eleição presidencial, afirmando que o ex-presidente Lula e a [então candidata] Dilma Rousseff “sabiam de tudo” sobre o caso de corrupção na Petrobras.
Segundo a matéria, Alberto Yousseff teria dito em depoimento à Polícia Federal, que os petistas tinham ciência do esquema. Pouco tempo após a eleição, o advogado do doleiro tratou de desmentir Veja.
Ainda no espectro da cegueira ideológico-partidária, a revista publicou, no dia 18 de fevereiro, uma matéria dizendo que a família de Lula teria arrecadado R$ 220 mil para a festa de Thiago, que seria sobrinho do ex-presidente, e que os convidados teriam recebido um Ipad. Treze dias depois, Veja teve que desmentir o fato criado por ela e pedir desculpas por meio de uma nota publicada em seu site.
Apesar das mentiras criadas, dos fatos distorcidos, da manipulação da informação e de negar o direito ao contraponto, a revista continua circulando livremente e segue impune. Pior, sua capacidade de caluniar, serve como base de informação e formação em espaços privilegiados. Por exemplo, em agosto de 2013, sem licitação, o governador Alckmin (PSDB) comprou 5.200 assinaturas semestrais da Veja para serem distribuídas nas escolas públicas por R$ 669.240.
A atuação mafiosa da publicação torna ainda mais urgente a adoção de um novo marco regulatório da comunicação, que assegure a pluralidade de ideias e opiniões nos meios de comunicação. E tenha como uma das diretrizes a criação de mecanismos de responsabilização das mídias por violações de direitos humanos.
Foi com essa base que países como Reino Unido, França, Estados Unidos, Portugal e Alemanha estabeleceram regras para o setor. A comunicação é um direito, que só será plenamente exercido quando tivermos uma lei garantindo a pluralidade de ideias e posições, punindo abusos e cobrando responsabilidades. Esse é o caminho e a campanha Para Expressar a Liberdade é a nossa ferramenta.