Ao entrar no auditório do Hotel Canto da Ilha da CUT em Florianópolis, já dá pra sentir que o clima do Seminário Nacional de Educação e Mundo do Trabalho está diferente dos habituais espaços de debates do movimento sindical. As cadeiras estão alinhadas em forma circular. Ao invés de mesa para os debatedores, há uma praça, com árvores, bancos, plantas, fonte e até um orelhão. Chamada de Praça Paulo Freire, o cenário já traz a inspiração e objetivo proposto pelo Seminário da CUT Nacional, debater a educação e a influência dela para o mundo do trabalho num formato diferente, num olhar da educação popular.
A mística de abertura do Seminário arrepiou os presentes, com olhos vendados, pessoas encenam a opressão da sociedade. Após a belíssima apresentação a Praça Paulo Freire se enche de lideranças que representam os ramos da educação que estão na CUT, além da Secretária de Formação da CUT Nacional, Rosane Bertotti, senta no banco da praça a Secretaria Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE, Marta Vanelli, a Secretaria de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino – CONTEE, Gisele Vargas e a presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal da CUT – CONFETAM, Vilani Oliveira. Todas falam dos ataques que a educação brasileira sofreu nos últimos meses através do Governo Temer.
A esperança com Paulo Freire – “Paulo Freire nos ensina que o ser humano é um ser antológico e esperançoso por natureza, nos ensina que o conhecimento não se constrói sozinho, se constrói a partir das realidades, da vida e do sujeito, conceitos que também fazem parte da concepção de educação da CUT”, ressalta Rosane Bertotti.
Para falar de Paulo Freire e todas as sabedorias desse escritor, o Seminário contou com a exposição de José Eustáquio Romão, professor e secretário geral do Instituto Paulo Freire. Romão conviveu com Freire, estudou com ele, eram amigos e escreveram livros juntos, hoje Romão é um dos principais nomes que mantém viva a filosofia e pedagogia do patrono da educação brasileira.
“A gente é o ser e o ser é a gente sempre quer ser mais, nós somos essa tensão permanente entre ser e ser mais, por isso o ser humano é tão cheio de esperança”, o professor, que já foi preso durante a ditadura militar relata a sua vivência e fala do que foi o enfrentamento no período da ditadura e como a fase que estamos vivendo é muito parecida com os tempos que antecederam o golpe militar em 1964. Apesar de todas as dificuldades que estamos passando, Romão diz que não podemos perder a esperança. “Vocês que são mais jovens que eu, vocês não têm o direito de perder a esperança, nós vamos vencer essa luta. A gente viveu 21 anos de ditadura, sem jamais perder a esperança”, salienta ele.
Romão fala que é necessário reunir intelectuais e trabalhadores, para que juntos possam compreender tudo o que o movimento popular está passando. “Nós temos um longo trabalho pela frente, nosso projeto freiriano não é de eliminar o adversário, mas de libertá-lo de sua alienação”.
A esperança com os estudantes – Ao começar o debate no período da tarde, pouco a pouco quando os participantes chegavam no auditório, já se deparavam com uma menina magrinha, de cabelos longos, vestido estampado e de tênis “all star”. Conforme ia sendo reconhecida, já recebia abraços e pedidos de foto. Mas quem era essa menina famosa?
Ana Julia Ribeiro, estudante que no dia 26 de outubro, fez uma fala na Assembleia Legislativa do Paraná e emocionou a todos e todas que acompanhavam a ocupação dos estudantes,q eu lutavam contra a PEC 55 que congela gastos e contra a MP746, da reforma do ensino médio.
Ana Julia, que gosta de frisar que ela é apenas uma pessoa que representa todo um coletivo, sentou na praça simbolicamente ocupada por jovens que participavam do evento e no meio da juventude falou da experiência das ocupações das escolas e universidades que movimentaram o país nos últimos meses. Ana emocionou. Ela falou de esperança, de indignação, de luta. Ela olhou nos olhos das pessoas, demonstrou força, angústia, embargou a voz, chorou. Ela trouxe para os participantes a esperança que Paulo Freire disse ser tão necessária para fazer a revolução e deixou um aviso: “Não importa o que eles façam, vamos lutar pelos nossos direitos, os estudantes não aceitam ter medo de lutar”.
O primeiro dia foi intenso e ainda contou com mais dois momentos dentro da praça. Um deles foi uma mateada coordenada pela presidente da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues, que refletia sobre o Cenário das Políticas Públicas de Educação e Trabalho na Perspectiva dos Trabalhadores e contou com a presença de Alex Santos da CONFETAM, Heleno Araújo Filho da CNTE e José Ribamar da CONTEE. Para encerrar o dia, a professora Maria Clara Bueno Fisher fez parte da Praça Paulo Freire e falou sobre a Luta e resistência em defesa da Educação Integral dos Trabalhadores.
Fonte: Sílvia Medeiros / CUT SC