[ Boletim Conjuntura Semanal Nº 1 – Uma Publicação da Subseção do DIEESE da FECESC ]
Você é nosso convidado para acompanhar, semanalmente, a análise dos principais fatos econômicos e políticos, realizada pelo técnico do DIEESE da Subção da FECESC Maurício Mulinari. Organizada no Boletim CONJUNTURA SEMANAL, a análise será enviada por e-mail para os Sindicatos filiados e demais entidades sindicais e publicado aqui no site da federação. O histórico das análises permanecerá disponível no espaço “Subseção Dieese” do site.
Brasil à venda: a estratégia da classe dominante brasileira
A semana que passou evidenciou a próxima etapa da guerra de classes contra o povo brasileiro. Depois do congelamento dos gastos públicos por vinte anos e da destruição das leis trabalhistas, se anuncia um largo processo de privatização do patrimônio público nacional, que já está em curso e andando a passos largos. O resultado demonstra o tamanho da crise financeira da União e dos estados, que, em um momento de receita em baixa, comprime os investimentos para sustentar o pagamento intocado do gasto financeiro para elite rentista – hoje já consumindo 47% do orçamento público brasileiro.
- Despenca o investimento das estatais: desenvolvimento e geração de empregos na lona
Foi noticiado durante a semana que as estatais brasileiras tiveram o menor desembolso com investimento desde 2008, ano da grande crise internacional. O investimento no primeiro semestre foi de apenas R$ 23,5 bilhões, metade do que havia sido investido no mesmo período de 2013, melhor ano recente para os investimentos. Esta paralisia do investimento, ao contrário do que diz a narrativa oficial do governo e da mídia, impede qualquer retomada do desenvolvimento e da geração de empregos.
As estatais – como a Petrobras, Eletrobras, Correios e Infraero, por exemplo – são centrais no desenvolvimento do país. Em um país onde domina uma burguesia viciada na especulação, que destrói a indústria para lucrar no cassino financeiro, são as estatais as principais responsáveis, direta e indiretamente, pela geração de empregos no país, além de impulsionarem o desenvolvimento científico nacional. Paralisadas, não há chance de retomada econômica e de diminuição do desemprego.
- Estados em crise, quem paga é o povo
De outro lado, os governos estaduais, responsáveis pelo grosso do investimento em saúde, educação, segurança, saneamento, etc., reduziram em 15,9% estes investimentos na comparação com o mesmo primeiro semestre do ano passado. Assim, sem investimentos dos estados em atendimento ao povo, o serviço público se aproxima rapidamente de um colapso generalizado, transformando o Brasil em um grande Rio de Janeiro.
Com a crise criada pelos capitalistas, que aumentou o desemprego e a pobreza, a demanda por serviços públicos também aumenta, justamente no momento onde os estados deixam de investir no crescimento da oferta e da melhoria destes serviços. O resultado não poderia ser outro: filas nos hospitais e postos de saúde, falta de medicamentos, aumento do tempo para realização de exames médicos, falta de material escolar, justíssimas greves de professores por melhores condições, aumento da violência urbana, mortes, pobreza e desespero. Esta é a realidade do povo dentro do capitalismo.
O caso do Rio de Janeiro é o mais grave dentro deste cenário. O governo cortou em 86,7% o investimento público, jogando a população carioca no cenário de guerra que choca o restante do país. O problema é que o que acontece no Rio é o modelo do que deve ocorrer em outros estados em curtíssimo prazo. A compressão dos investimentos públicos não irá parar nos próximos 20 anos, tudo para sustentar os lucros gigantescos dos monopólios corruptos, a guerra de classes da elite contra o povo em todas as suas dimensões.
- Saída da elite para a crise financeira: privatizações e aumento do sofrimento do povo
Qual a saída do governo para este caos que o país vive? Diminuir o pagamento de juros para a elite e aumentar o investimento social e a geração de empregos? Não, pelo contrário. A saída que já se apresenta – como no caso da Eletrobras, da Caixa, dos Correios e da Amazônia – são as privatizações. Mais uma vez, o Brasil sendo liquidado em um leilão para as grandes potências imperialistas internacionais.
O gasto financeiro comprime o investimento, as estatais passam a ser sucateadas, o sistema de atendimento público também. Logo se anunciam os leilões de privatização das empresas públicas como “salvadores da pátria”. O roteiro já é conhecido e se repete. A novidade é o tamanho da agressão, com o governo Temer conseguindo mostrar uma ânsia privatista maior do que a do governo FHC. Sinal dos tempos, onde a guerra de classes é profunda, sem espaço para ilusões de conciliação. O ímpeto é tamanho que até mesmo a Reserva Nacional do Cobre e Associados – a Renca, uma área no meio da floresta amazônica, de mais de 4 milhões de hectares – tentou ser, via decreto de Temer, entregue para a exploração das grandes mineradores internacionais.
A sociedade se mobilizou e Temer se viu obrigado a recuar. No entanto, o plano continua firme e, na necessidade de arcar com o gasto financeiro do Estado para a elite, não sairá de pauta. Da mesma maneira com as estatais e com a entrega do serviço público universal para a iniciativa privada que atenderá apenas aqueles que tiverem dinheiro para pagar. Assim caminha o Brasil nas mãos da elite, à venda e no rumo do caos social.
Responsável Técnico: Maurício Mulinari