26/07/2024
Por Francisco Alano (presidente da FECESC) e Maurício Mulinari (assessor sindical) As recentes eleições parlamentares europeias trouxeram à tona mudanças no panorama político do continente, com destaque para a vitória de uma coalização de esquerda na França, comandada pelo partido França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. Entretanto, ao mesmo tempo que ocorre uma vitória da esquerda na França, também crescem posições de uma direita nacionalista, tal qual o governo de Georgia Meloni na Itália e Viktor Orbán na Hungria. Sinais tão contraditórios refletem a continuidade dos desdobramentos da crise capitalista em curso desde 2008, que tem levado a um profundo descrédito de governos associados aos programas baseados na austeridade. O tradicional “centro político” europeu – que envolve tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda – encontra-se em grande descrédito, sendo a derrota do partido de Emmanuel Macron na eleição parlamentar francesa o mais novo capítulo de tal situação. A Europa hoje é o continente mais profundamente afetado pela crise capitalista mundial que vigora desde o colapso financeiro de 2008. Esta crise, marcada por estagnação econômica, desemprego elevado e crescente desigualdade social, é resultado das contradições inerentes ao sistema capitalista. No contexto europeu, a crise social foi exacerbada por políticas de austeridade, que impuseram cortes profundos nos gastos públicos e enfraqueceram os sistemas de bem-estar social. Mais recentemente, também a Guerra da Ucrânia, produto do conflito entre a OTAN – comandada pelos Estados Unidos – e a Rússia, tem trazido impactos significativos no aumento da inflação no continente, algo que não ocorria desde a década de 60 do século passado. Os programas de austeridade e as novas leis que levaram à derrocada de direitos trabalhistas e sociais foram aplicados ostensivamente desde 2008. Promovidos e apoiados pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como soluções para reduzir déficits e dívidas públicas dos países – que lançaram planos de trilhões de Euros para salvar o sistema financeiro – esses programas tiveram consequências devastadoras para a população de todos os países europeus. A austeridade levou ao aumento do desemprego, redução de salários e pensões, e cortes em serviços públicos essenciais como saúde e educação. Além disso, aprofundou a desigualdade e a pobreza em muitos países, o que é agravado pelo crescimento da inflação. A falha das políticas de austeridade em proporcionar uma recuperação econômica sustentável resultou no crescente descrédito dos governos que as implementaram. Muitos eleitores passaram a ver esses governos como cúmplices do sistema capitalista em crise, que privilegia os interesses do capital financeiro em detrimento das necessidades da população trabalhadora. A vitória da esquerda na França nas recentes eleições parlamentares é um reflexo direto desse cenário de crise e descontentamento. Partidos de esquerda, como a França Insubmissa liderada por Jean-Luc Mélenchon,...24/07/2024
No quarto e último módulo do curso de Formação Sindical, oferecido pela FECESC aos dirigentes, nesta quarta-feira (24 de julho) o tema foi “O Fascismo em Santa Catarina”. O professor Adriano Luiz Duarte, do curso de História da UFSC, explanou sobre as origens e características da “fascistização” em Santa Catarina; sobre os limites e potencial desse fenômeno e sobre as estratégias eficazes para combater o avanço do fascismo no Estado. O professor listou alguns dos possíveis motivos que levam o Estado catarinense a ser reconhecido como supostamente simpático e tolerante ao fascismo. Um dos motivos pode levar em consideração a transformação da propriedade da terra nos últimos 40 anos. De acordo com o professor, Santa Catarina sempre foi um paraíso da pequena propriedade. Famílias que obtinham da terra (em pequenas propriedades) seu sustento, vendendo o excedente. Santa Catarina nunca teve grandes latifúndios. Mas entre meados dos anos 90 e início dos 2000 um número muito grande de pequenas propriedades rurais foi desaparecendo, ou seja, sendo repassado a grandes latifundiários. Há uma crescente concentração de terra na mão de poucos. Entre 1995 e 2017 desapareceram 18% das pequenas propriedades, mas a área agrícola cultivável cresceu 10%. A população rural de SC reduziu em 12% de sua população, e a urbana cresceu quase 25%. E quem perde o acesso à terra ou se torna trabalhador agrícola para os outros, assalariado, ou vai pra cidade para ser assalariado. Surge a raiva, as pessoas perderam suas propriedades. E de quem é a culpa? Do capitalismo e da acumulação de terras. Mas a culpa segue um caminho aparentemente mais óbvio: o governo de ocasião. Adriano também observou o conceito de “colono-operário”. Como as propriedades são pequenas, de modo geral, e indivisíveis, muitas famílias, entre o plantio e a colheita, vão trabalhar na indústria. Mas não há assimilação imediata, o que implica numa dificuldade de se perceber como pertencente à classe trabalhadora. E isso ajuda a entender o número baixo de greves na indústria, por exemplo. Agora, no entanto, não há mais terra para voltar, e isso causa frustração e revolta. Mais uma vez, este trabalhador precisa encontrar um culpado. A terceira hipótese diz respeito ao modo como Santa Catarina se percebe e como o Estado vende SC na propaganda: o Estado mais europeu, uma estratégia pra atrair turista, mas que passa a imagem de sermos um lugar “diferenciado”, mais trabalhador, mais rico, mais avançado. Pessoas começam a acreditar nisso, neste mecanismo de propaganda, que vivem onde só existem brancos, com mais cultura, mais dinheiro, menos miscigenação, presença negra irrelevante. O professor conclui observando que é importante reconhecer o crescimento da extrema direita no Brasil (e em especial em SC), mas sempre com muita cautela....