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Organizações de estudantes de todo o Brasil se preparam para resistir em defesa da democracia, do direito à educação, à juventude e pelo respeito às liberdades individuais

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Stefany: por escola plural, democrática, onde todas as opiniões, etnias, gêneros, orientações sexuais sejam respeitadas (Foto: acervo pessoal)

 

União Nacional dos Estudantes (UNE) representa cerca de seis milhões de universitáriosde todos os 26 Estados e do Distrito Federal. Sob a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas(Ubes) estão cerca de 40 milhões que cursam o ensino fundamentalensino médioprofissionalizante e pré-vestibular no Brasil.

“É uma fantástica e movimentada multidão de jovens, ideias e sonhos diversos presentes nas salas de aula, laboratórios e grêmios estudantis de norte a sul do país”, anuncia em sua página oficial a Ubes, que há sete décadas reúne entidades secundaristas estaduais e municipais, “organiza e mobiliza as vontades, as insatisfações e os anseios de todos os secundaristas brasileiros”.

“A universidade é um ambiente onde a juventude brasileira tradicionalmente se organiza em torno de visões, opiniões e vontades comuns. Movimento estudantil é o nome dessa atividade que envolve tanto a organização de uma festa como a participação numa passeata, a criação de uma empresa júnior ou a representação política para debater o país”, explica o site da UNE, por meio da qual, há mais de 70 anos, os estudantes se organizam em entidades representativas como DAs (diretórios acadêmicos), CAs (centros acadêmicos), DCEs (diretórios centrais), uniões estaduais de estudantes e executivas nacionais de cursos.

Essa organização, agora, é ainda mais fundamental. “Há um crescimento das ideias fascistas na sociedade e isso repercute na universidade”, avalia Jessy Dayane Silva Santos, vice-presidenta da entidade. “Por outro lado a universidade, como foi ao longo da história, persiste como um território de resistência democrática, das liberdades individuais, da diversidade, do conjunto das ideias. Espaço de debate rico de diálogo.”

Oriunda da Universidade Federal de Sergipe, do curso de Serviço Social, Jessy agora faz Direito, na FMU, em São Paulo. E, para ela, não é um acaso a educação e a universidade estarem entre os principais territórios atacados pela ascensão das ideias fascistas, pela figura do Bolsonaro e quem constrói com ele esse projeto. “Obviamente esses grupos se desenvolvem na universidade, mas não têm condição de construir tanta força nesse território justamente por esse histórico de ser um espaço guardião da democracia, da diversidade. Onde se produz conhecimento, onde se confronta as ideias, eles têm tido mais dificuldade de se desenvolver.”

As dirigentes vêm com preocupação o nível de agressividade, de hostilidade, de violência que os jovens estão enfrentando. “Isso tem tomado os espaços das universidades por conta do surgimento desses grupos e do avanço das ideias fascistas. Eles existem, afinal somos um retrato da sociedade”, afirma Jessy. “Mas não vão ter capacidade de construir hegemonia pelo que significa a unidade e também pela atuação do movimento estudantil resistente: centros acadêmicos, DCEs, e a própria UNE, o conjunto de coletivos, grupos de extensão que atuam nesse território e tornam ele tão vivo e pulsante no sentido do debate das ideias. A gente tem enfrentado conflitos, temos preocupação com nível de agressividade, de violência, mas também temos a certeza de que a universidade vai permanecer sendo um território de resistência.”

“Temos relatos (de violência e embates) principalmente de meninas, negros e negras e LGBTs, ou os estudantes dos grêmios estudantis”, relata Stefany Kovalski, 19 anos, diretora de comunicação da Ubes. “E temos, ainda, medo das propostas de privatização e ensino a distância. Vários também têm receio em relação a se contrapor ao governo, sentimos que não temos mais direito de liberdade de expressão e que podemos perder mais ainda.”

Apesar de todos os receios, assim como na UNE, o posicionamento é claro na Ubes. “Sempre foi e continuará sendo a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade e o acesso a essa educação”, afirma Stefany. Natural de Cascavel (PR), a jovem vive hoje em São Paulo onde presta vestibular para Arquitetura. “A gente vem se sentindo muito atingidos com os resultados das eleições. Mas estaremos ao lado dos estudantes para que a gente consiga ter, de fato, uma escola plural, democrática, onde com todas as opiniões, etnias, gêneros, orientações sexuais sejam respeitadas.”

Articulando a resistência

Segundo Jessy, a força da UNE reside na capacidade de articular e colocar em movimento uma ampla rede do movimento estudantil. “Uma rede que é composta pelos centros acadêmicos que têm diálogo direto com os estudantes de cada curso; com os DCEs que dialogam com o conjunto da universidade, com as questões gerais; e as UEEs, que têm capacidade de articular, movimentar e mobilizar o conjunto das universidades dos estados.”

Agora, segundo ela, é intensificar a tarefa de ampliar esse diálogo e trabalho de base com os estudantes. “A saída para um momento em que a gente vai sofrer duros ataques à educação, às liberdades individuais e democráticas, em que a própria universidade pública como instituição está em risco e a educação como um todo está em risco na sua liberdade de pensar, ensinar, aprender, na reflexão crítica, a melhor forma de resistir é estar organizado coletivamente.”

Assim, 20 anos depois do primeiro encontro, a UNE realiza sua 11ª Bienal. “É a maior mostra cultural estudantil da América Latina, que agora vai contar também com a produção secundarista e pós-graduanda e a participação da UBES e ANPG”, informa a página do evento nas redes sociais. “Salvador, entre 6 a 10 de fevereiro de 2019, vai reafirmar a cultura como forma de luta e resistência.”

São esperados cerca de 10 mil estudantes de todas as regiões do país, “para se integrar ao povo baiano e fazer da Universidade Federal da Bahia a referência da produção artística desenvolvida pela juventude brasileira”.

O evento vai homenagear Gilberto Gil e sua obra como artista, diplomata, ambientalista, político e músico.

Juntamente com a Bienal ocorrerá o 15º Conselho Nacional de Entidades de Base (Coneb) da UNE, que vai reunir diretórios e centros acadêmicos de todo o país, além do 4º Encontro de Grêmios da UBES, com estudantes de escolas e institutos federais.

O objetivo: debater os rumos do Brasil e a defesa da educação pública e gratuita. “Será nossa primeira ação de conversar e organizar os estudantes”, avisa Stefany.

“Para que a gente consiga ter força de resistência, os estudantes precisam estar organizados e conscientes sobre qual a situação do país, o projeto de país que a gente defende, o que é que a gente tem de combater. Essa tem sido nossa principal linha política. Se a gente já fazia esse trabalho de base, essa se tornou a tarefa primordial. A resistência reside na força popular”, crava Jessy.

Fonte: RBA | www.redebrasilatual.com.br | Escrito por: Cláudia Motta

Publicado em 14/12/2018 - Tags: , ,

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