Os conglomerados midiáticos nacionais exercem papel central na crise política que culminou com a admissão do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff no último domingo (17/4). O tratamento hostil dos grandes meios não só ao governo, mas aos movimentos sociais e a toda e qualquer iniciativa social de contraponto ao modelo liberal requer do movimento de defesa da democratização da comunicação estratégias de atuação cada vez mais incisivas. Esse tem sido o entendimento geral da XIX Plenária Nacional do FNDC, que reúne cerca de 140 pessoas, entre delegados, observadores e convidados, no Espaço Anhanguera, em São Paulo.
Aberta na tarde desta quinta (21/4), a plenária trouxe um debate de conjuntura com o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), o professor João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Rosane Bertotti, coordenadora geral do FNDC. Rosane analisou que há um movimento de unidade entre os conglomerados de telecomunicações e de radiodifusão para fortalecer o grupo oposicionista liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente Michel Temer. “Antes, as teles e a radiodifusão atuavam cada uma pro seu lado. Agora, estão cada vez mais unidas no apoio ao golpe em curso, junto, inclusive, com o Judiciário”. Rosane lembrou da afirmação de Dilma, ainda em 2014, de que a regulação da mídia seria uma das agendas centrais de seu segundo mandato. “Com o avanço da conjuntura, fomos percebendo essa intenção como algo cada vez mais distante. Se conseguirmos reverter esse golpe, não podemos mais aceitar um governo que não executa a pauta para a qual foi eleito”, afirmou.
Para o deputado Orlando Silva, ainda é possível reverter a tentativa de impeachment presidencial. Ela observou que resistência no Brasil terá desdobramentos em toda a América Latina. “Denunciar o golpe é uma luta que vai além das nossas fronteiras e é fundamental para a resistência no plano internacional. A aliança golpista, composta por corruptos, traidores, torturadores e defensores do grande capital, nos impôs uma derrota política importante. A batalha, no entanto, está em curso no Senado e acho que não devemos dá-la por perdida”, afirmou o parlamentar. Ele analisa que o Senado é um campo muito diverso, diferente da atual composição da Câmara. “O Senado ainda não votou a terceirização e a redução da maioridade penal, pautas que simplesmente passearam pela Câmara e foram aprovadas rapidamente. Isso mostra que há uma diferença entre as casas. Agora, é claro que não podemos ser ingênuos, mas temos que manter viva a mobilização nas ruas em defesa da democracia”, opinou Silva.
Para o professor João Sicsú, há duas possibilidades imediatas, o governo Dilma-Lula e um governo Temer-Cunha. “Se a primeira opção for vitoriosa, está óbvio que será coordenada pelo presidente Lula e precisará de uma grande virada para corrigir os erros cometidos pelo governo desde 2011”. Também na opinião de Sicsú, a crise pode ser “driblada”, mas isso dependerá, num cenário de continuidade do governo Dilma, de recomposição da base social. “Temos que voltar a gerar empregos e não enfrentar a crise propondo reforma da Previdência e corte de gastos, como vem fazendo o governo Dilma”, enfatizou.
O grupo liderado por Temer-Cunha é o grupo que pretende governar com base na concentração de renda e riqueza, avalia Sicsú. Para ele, a primeira medida de um governo liderado por esse bloco seria o “sequestro” do Orçamento Geral da União para transferir juros e subsídios para grandes empresas e blogueiros. “O orçamento é o grande instrumento de concentração de renda e é isso que está em jogo: quem pega a maior parcela do orçamento. Eles não querem regular a economia, querem que a dinâmica da economia seja controlada por grandes empresas”, observa.
Para Sicsú, ambos os projetos, Dilma-Lula ou Temer-Cunha, “são difíceis”. “A segunda, inclusive, também será ruim para a classe média alta, pois sem distribuição de renda não há consumo e os negócios deles também não irão bem, então, a melhor chance é o primeiro projeto, desde que sem continuidade das medidas de ajuste. “Dinheiro na mão de pobre e de trabalhador é sempre bom, porque eles gastam tudo que recebem, e isso é bom para a economia. Nenhum dinheiro que cai no Bolsa Família vai para Nova Iorque ou para a bolsa. Infelizmente, o governo Dilma enfrentou a crise, agravada pelo contexto internacional, colocando dinheiro na mão dos empresários, e empresário não gasta, por isso a economia começou a piorar”.
Fonte: Elizângela Araújo/Fotos: Lidyane Ponciano – FNDC